sexta-feira, 25 de abril de 2008

Desabafo de uma noite de janelas abertas

Há um momento no filme "Shelter" em que o narrador diz: It is crazy how one experience can change your life forever...". Esta frase ficou-me gravada no ouvido, assim como a música que a acompanha. Podem ver o trailer do filme aqui:



Este foi o primeiro filme de surf que vi. Passados quase dois anos e uma vintena de filmes, coincidência ou não, continuo a achar que é o melhor e aquele com o qual mais me identifico.

A tal experiência que muda a vida para sempre, no meu caso, foi mesmo ter começado às voltas com as ondas. Tinha este bichinho dentro de mim, adomecido, mas vivo. Quando era míudo, bem míudo, as pranchas de surf eram objectos que não estavam ao alcance de todas as bolsas, o que era o meu caso. Lembro-me, como se fosse hoje, da pranchinha mágica de esferovite e cola de fibra, pintada de azul, que o meu pai me fez com muito amor, e na qual comecei a apanhar as primeiras ondas de pé, o que com 40 e poucos quilos não era muito difícil. Recordo com saudade a sensação de deslizar nas ondas ao lado do pessoal que já tinha pranchas de fibra, e de ouvi-los a dizer "olha o puto mete-se de pé !!!!".

Quando uma pranchinha de surf, daquelas "de verdade" já estava no horizonte, o infortúnio bateu-me à porta. Pois é, apanhar ondinhas nos primeiros dias de Novembro, sem fato, e enganar o frio, pode levar a maus resultados, o que foi o meu caso. Uma paralisia facial deixou-me com 6 meses de injecções, fisioterapias e mais tratamentos, que felizmente resolveram completamente o meu problema.

Curiosamente, nesta história dá-se um salto de 15 anos, durante os quais pratiquei outros desportos e fiz inúmeras actividades, tantos e tantas que seria enfadonho enumerar, e o mar sempre ali ao lado, à espreita, até que, ao passar dos "intes" para os "intas", finalmente deu-se o reencontro.

O resto da história é o que se sabe. São as tardes dentro de água, as ondas, a brisa do mar, o cheiro do wax, as espreitadelas no windguru e na tabela de marés, as corridas na praia, o "ir ver o mar", e, o melhor de tudo, aquele sorriso de orelha a orelha depois do surf.

Falo aqui de surf como se de emancipada actividade se tratasse, qual nobre diversão de deuses, quando consiste simplesmente em deslizar nas ondas em cima de um pedaço de foam e fibra de vidro. Pois é, o leitor (sim, tu e mais os outros 3 que visitam este blogue)decerto se espanta pela importância que eu atribuo ao acto de correr ondas. Desengane-se.

Não se trata só de correr ondas. Só experimentando se consegue perceber o que leva um tipo como eu a perder 20 minutos no teclado a escrever isto. É a tal experiência....

Pronto, confesso. Só tive de escrever isto para desanuviar, para tentar não pensar nas ondas que apanhei esta tarde na pranchinha nova, que anda nas horas !!!!!

"Life is like a box of chocolates, you never know what you gonnna get !"

P.S. Aqui está a menina:


domingo, 13 de abril de 2008

Nada do Outro Mundo


Assisti ontem a esta peça, e recomendo vivamente. Já tenho assistido a algumas peças com o Luís Vicente (lembram-se do Átila da série Duarte e Companhia ...) e aprecio bastante o seu trabalho, mas nunca tinha visto o Paulo Matos em teatro, e foi uma agradável surpresa.

Paulo Matos, em jeito de alusão, principalmente à segunda personagem, digo-te que: "Bronco, mais bronco, não há !!! Sabes do que estou a falar...

O espectáculo (dos textos originais “L`Homme sur le parapet du pont” – 1985; e “La Ronde de Sécurité” - 1984), colhe título numa frase recorrente nos dois textos que o constituem, associada a uma lógica de predador – no primeiro caso personificada por um jornalista e no segundo caso por um auto-intitulado agente de Segurança.

O primeiro texto, O Suicida, remete para a relação manhosa e cínica que alguma imprensa cria e mantém com o cidadão, deturpando o facto e rigor jornalístico, valorando o sensacionalismo.

O segundo texto, O Segurança, aborda a prepotência exercida por um suposto agente de autoridade sobre um cidadão incauto.

As deduções e induções de uma inquirição de circunstância na via pública assumem particular relevância crítica, salientada por um registo de absurdo.

São por isso textos do quotidiano: cruéis, irónicos, absurdos.

A encenação é de Paulo Matos, a execução cenográfica de Tó Quintas e as interpretações estão a cargo de Luís Vicente e Paulo Matos.

Próximas oportunidades de apreciar o enorme talento destes dois actores:

Faro, 2 e 3 de Maio às 21h30 e 4 de Maio às 16h

http://www.teatrolethes.pt


A não perder.